27 junho 2008

THE OFFICE CLUB

Aqueles que viveram nas caldas entre 2005 e 2007 sabem do que lá se passou.
Três (acho que no inicio até eram quatro) pessoas juntaram-se e quiseram fazer por lá qualquer coisa coisa muito nova.
Do sonho nasceu o Office. Um espaço cheio de juventude e glamour, aplaudido por uns e criticado por outros.

Eu lembro-me como se fosse ontem. Inicios de Junho, um calor abrasador (por estranho que pareça nas Caldas da Rainha), saio de casa com o cabelo ainda encharcado do banho (ia chegar seco à escola), headphones, óculos escuros a tapar o olheirão da noitada de trabalho (final do ano lectivo), e o dito trabalho debaixo do braço.
Um carro apita, não ligo. Faz sinais de luzes, não ligo. Já vou no fim da rua quando me aparece a correr uma gajo com ar de empresário da noite (a típica camisa preta e o oculinho espelhado) – queria falar comigo.
“Ah, e tal!! Eu e uns sócios vamos abrir aí um espaço noturno, ali onde era o Rock’s (para quem não sabe, o Rock’s era assim um espaço tipo... Sei lá... Tipo Dock’s, mas mais pequeno... e no final muito vazio), e tinhamos pensado se não gostarias de ir para lá trabalhar”. Eu senti um misto de vangloria e nausea (mas por que raio se lembrou de mim? Devo ter cara de menina da noite), “epa... Eu acho que não sou bem o que voçês estão à espera... Eu não danço em cima do balcão e não uso decotes nem mini-saias”...

Foi aí que a coisa começou. Ele disse que era mesmo isso que andavam à procura. Queriam uma coisa mais séria, com concertos de Jazz e projecções de filmes e Dj’s alternativos. Um espaço multifunções, que funcionasse como bar e discoteca, e que até ia ter um pequeno palco para concertos. Tanto falou que me convenceu a dar o numero de telefone...

E assim foi. Quando lá fui a primeira vez ainda não havia chão, não havia cor nas paredes, não havia bolas de espelhos, não havia cabine. Tinha um patrão (O Catarino) à porta (mais uma vez um dia de sol nas Caldas da Rainha), e um puto montado numa bicicleta a falar com ele.
Quando cheguei, o patrão apresentou-me o puto. Era o Ride, e ia ser nosso residente.
Confesso que pensei “Bem, no que é que me ando a meter...”.

Depois foi a reunião com os “outros empregados”. Mais um patrão (o Edu), e os “outros empregados eram a Raquel que tinha trazido o António a reboque para lhe fazer companhia. Eu e ela aquilo foi empatia à primeira. Eles lá a fazerem os valores deles e os horários deles, e nós sempre muito desconfiadas. Saímos dali, pela primeira vez, para a Rua da Amargura, “Que é que achas?”.

Umas semanas depois e tinha chegado a hora - Dia menos um.
Lá tavamos nós, já com o amor à camisola que ainda hoje não sabemos de onde nos caiu, a raspar a tinta das paredes e a arrumar os armário poeirentos que herdámos do Rock’s.
Sete do Sete de Dois Mil e Cinco - Tinha chegado o primeiro dia. Seis pessoas num balcão onde quatro eram mais que suficientes. Ninguém se conhecia, metade (senão mais) não sabia o que fazia e todos davamos muitos encontrões uns nos outros.
O Ride... Percebemos logo tudo. “O puto tem jeito!!”.

Depois foi sempre a aviar. Noite após noite, chegou o Pedrinho, chegou o Telmíssimo, chegou o amor (muitos casais se fizeram naquela altura). Chegou a Mariana e o Padok. A família foi crescendo e o papel higiénico preto substituido por branco, o vermelho das paredes por verde.
Noites a deitar por fora e a fazer caracolinho à porta, noites que eramós nós e a festa tava feita. E chegou a Joaninha.
Veio o Jazz e outros eventos, veio o Stuart, as pareces ficaram douradas, e quando demos por nós, andávamos juntos para todo o lado.
Veio o César e a Mafalda. Já eramos uma família por essa altura. Eu e Luis não passavamos uma semana que não andássemos aos berros um com o outro (como bons pais de família).

E veio o Pantera e a Sofia.
Por esta altura eu ainda não me tinha apercebido o quanto aquelas oito horas por dia, cinco dias por semana me tinham mudado. Quem me viu e quem me vê sabe disso. Umas coisas melhores e outras piores. É a vida...
O que é certo é que me cansei, chorei e maldice aquela casa muita vez. Senti-me muitas vezes injustiçada, mas também me senti querida, amada e valorizada.

Sete do Sete de Dois Mil e Sete – Acabou-se. É daquelas coisas. Acontece.
Ainda me lembro o que chorei a entregar os ultimos envelopezinhos, com os nomes dos meninos, e a fechar a caixa, a carregar no botão do alarme, e tirar a chave do chaveiro e entrega-la ao Luis.
E depois aconteceu. Na quinta a seguir, tudo na minha casa a jantar. Dois meses depois, tudo nos meus anos. Um ano depois, ainda saimos todos juntos.

Sei que posso falar por todos. Somos e seremos, mais do que ex-combatentes, sempre uma família.

“Celebrate good times” – Domingo, 6. Mini-Mercado (Obrigada Manaia)